Unhas caninas – um resumo

Autor: Jonit Barsky, DVM, CCRT, CVA

Na medicina de reabilitação canina, o nosso foco está muitas vezes centrado nos joelhos, costas, coxas, ombros e cotovelos, mas é importante sublinhar a importância das patas. No que diz respeito à textura, temperatura e firmeza do solo, as patas são a primeira linha de comunicação entre o terreno e o corpo.

Imagine calçar sapatos novos, ou mesmo saltos altos, sem estar habituada a eles. E se quiser dançar ou fugir rapidamente de uma ameaça? E se tiver uma pedra no sapato? Numa situação destas, vai querer sentar-se e descalçar-se.

Os cérebros caninos estão programados para interpretarem informações críticas através das almofadas das patas, utilizando também os nervos sensoriais das articulações, tendões e músculos. Estes sinais comunicam informações sobre a posição do terreno, a sua dureza e se este consegue suster o corpo do animal. As almofadas das patas registam o peso corporal e as súbitas alterações na sustentabilidade do peso. Por exemplo, se o cão corre no campo e mete a pata num buraco, as mudanças no ângulo da perna e a pressão sobre a pata farão com que retire rapidamente a perna e altere o equilíbrio do peso corporal, a fim de evitar um grave acidente.

Imagem acima: Unhas das patas normais bem acima do nível do solo, com um bom contato entre as patas e o terreno.

Contudo, os ambientes modernos têm tendência para alterar a sensibilidade deste ciclo de feedback. Os cães passam muito tempo em pisos escorregadios, cimento abrasivo ou alcatifas – elementos amplamente diferentes de relva, pedras, areia, neve ou terra! Isto, combinado com exercício limitado, pode dificultar a conexão pata-cérebro. Os cães, à semelhança de muitos animais domésticos, são bastante adaptáveis, e a maioria dos cães com um sistema nervoso normal consegue facilmente ajustar-se a estas alterações ambientais. Mas quando um cão tem défices neurológicos, como aqueles que surgem com a idade avançada, entre eles a fraqueza nas patas traseiras ou patologias da coluna vertebral, a informação (ou falta dela) extraída pelas patas pode dificultar a locomoção do animal.

Um dos problemas mais comuns que atingem as patas dos cães domésticos são as unhas compridas. Por norma, as unhas não devem tocar no chão quando a pata está numa superfície firme e nivelada, mas devem, ainda assim, ser suficientemente compridas para garantir a tração correta quando o animal sobe uma inclinação ou decide escavar. Num cão com unhas compridas, os sinais neurológicos emitidos pela unha da pata ao tocar no solo são interpretados pelo cérebro como se o animal estivesse perante uma superfície inclinada. Esta postura compensatória anormal provoca um excesso de peso sobre as pernas traseiras, sobrecarregando as suas articulações.

Apesar dos benefícios para a saúde, o cão de porte médio poderá ter de cortar as unhas várias vezes por ano. São muitos os fatores que podem dificultar o corte das unhas. Entre eles, o fato de que o estímulo constante provocado pelas unhas compridas em contato com o solo sensibiliza o leito ungueal. Os cães ficam extremamente sensíveis ao toque, predispondo-os para o desenvolvimento de artrite.

Se olhar para as unhas da pata de um cão, conseguirá ver que as unhas rígidas e sem sensibilidade estão agregadas a um tecido rosa e vivo, conhecido como sabugo. Este contém nervos e vasos sanguíneos sensíveis e, quando cortado, sangra abundantemente.

Quando as unhas das patas estão demasiado compridas, o sabugo também cresce mais rapidamente. O objetivo é retirar a unha comprida para que o sabugo recue. A forma mais fácil de fazê-lo é através de vários cortes pequenos e rasos, focados na parte de cima da unha, paralela ao sabugo, e não através deles. É possível encurtar significativamente as unhas da pata e obter uma resposta postural imediata numa única sessão.

 

Imagem acima: A diferença de postura antes e depois do corte de unhas.

O sabugo tem uma tonalidade brilhante e húmida – é um tecido vivo e tem uma textura diferente da unha. As unhas precisam de ser cortadas bissemanalmente para manterem o seu comprimento, mas, para diminuir o sabugo, deve serem cortados uma vez por semana. Por vezes, o cão apresenta maior tolerância a um Dremel (ferramenta rotativa/lima eléctrica) em comparação com um corta-unhas.

Estabelecer desde cedo o hábito de cortar as unhas ao cão é um hábito capaz de prevenir o surgimento de artrite e problemas de mobilidade a longo prazo! Veja como estão as patas do seu cão hoje mesmo e consulte o seu veterinário ou terapeuta de reabilitação, colocando qualquer questão que possa ter sobre as unhas do seu animal!

Para mais informação, aqui fica uma apresentação extensa feita pela veterinária Leslie Woodcock sobre o corte de unhas em cães praticantes de agility: https://www.youtube.com/watch?v=MM4HQDb1Ef0

Artigo original: http://www.twohandsfourpaws.com/drbarsky-canine-sports-medicine-blog-correct-toenail-length/